quinta-feira, 14 de maio de 2009

Psicólogo do Esporte tem que ser ex-atleta?

Este é uma pergunta recorrentemente feita por quem está conhecendo a Psicologia do Esporte. Uma resposta curta e grossa poderia ser: "Então para tratar pacientes com ideações suicidas é necessário que o psicólogo tenha tentado o mesmo, ou então ser pai para atender crianças e por aí vai!" Bem, essas não seriam respostas de psicólogo. Ele poderia responder que o conhecimento do esporte é muito benéfico, pois pode auxiliar o psicólogo a trabalhar com seu(s) cliente(s) por estar habituado com a terminologia utilizada no esporte, por já conhecer as demandas da modalidade, quais os grupos musculares ou habilidades psicológicas envolvidas, além de passar ao atleta uma "sensação" de já ter estado no mesmo barco. Todas estas informações prévias podem auxiliar ao psicólogo e dá-lo a possibilidade de trabalhar com o que Milton Erickson denominou de utilização, isto é utilizar elementos que podem ser frases, gírias ou expressões do esporte, sensações e sentimentos vivenciados na modalidade, para que o psicólogo possa embrulhar para presente aquela sessão ou atendimento. Independentemente de ser uma sessão clínica ou apenas um momento de feedback sobre algo observado no treinamento.

Mas então como exigir que o psicólogo saiba de detalhes de cada uma das inúmeras modalidades existentes?

No último congresso brasileiro da Abrapesp, discutiu-se sobre esta pergunta e de acordo com a Prof. Kátia Rúbio e com o Dr. Joaquim Dosil, é de fundamental importância que o psicólogo do esporte saiba muito bem sobre as demandas do esporte em que ele está atuando. Para tanto não se faz necessário uma experiência previa no esporte, mas isso torna o trabalho do psicólogo mais árduo, pois este terá que pesquisar de diversas formas (livros, entrevistas, observações e quem sabe até experimentações) para saber qual o contexto em que este seu cliente está inserido.

O próprio Dr. Dosil, incentivou todos os presentes a praticarem os esportes dos quais fossem consultores, ou que pelo menos estivessem envolvidos de alguma forma em atividades físicas. Seu argumento era que ao estar apto a realizar atividades físicas, o psicólogo ganha espaços privilegiados de atuação, afinal o setting do psicólogo esportivo, de acordo com Andersen, é o campo, ginásio, academia, quadra, vestiário e algumas raras vezes uma sala parecida com consultório. Neste evento o próprio Dosil mostra uma foto que foi publicada pela imprensa espanhola dele e um de seus atletas, automobilista, ambos correndo para reconhecerem o trajeto da pista de perto.

Esta postura me incentivou a iniciar novamente um programa de atividades físicas, afinal saber todos os benefícios físicos e psicológicos que o esporte tem a oferecer e não usufruir destes benefícios, não me parecia muito inteligente. O interessante que o beneficio que procurava não estava ligado aos citados, mas justamente ganhar alguns minutinhos ao lado dos atletas da AEEP. De qualquer forma esta estratégia está dando resultados, já estou conseguindo acompanhá-los e estabelecer um rapport ainda melhor. Olha que interessante exemplo de motivação! Quem observa de fora sem entrar nos meus motivos pode acabar se perdendo e intervindo de uma forma que não seja motivadora por não estar ligada aos MEUS motivos. Mas essa é outra estória!

Um ponto onde o profissional de educação física dá uma lição aos psicólogos é justamente nessa coerência, afinal na própria faculdade de Ed. Fisica os alunos devem participar de aulas práticas de cada modalidade, quando em psicologia pode-se concluir o curso sem ter feito terapia.

Vale também ressaltar os riscos corridos pelo ex-atleta que por ter uma vivencia muito intensa dentro do esporte. Ele pode confundir seu papel e "atropelar" o técnico. Então vale lembrar: "cada macaco no seu galho" ou a multidisciplinaridade deve andar em conjunto com as limitações e delimitações do trabalho de cada profissional, sabendo até onde podemos intervir.

Quando este é torcedor do time então isso pode ser ainda mais desastroso!

Abraços,

Tiago

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