sábado, 3 de julho de 2010

A Copa e os Treinadores

Belo Horizonte, 02 de julho de 2010

Caros,

Eu trabalho na área de psicologia do esporte por 38 anos no Canadá, Austrália, e agora no Brasil e eu acredito saber porque o Brasil perdeu para Holanda nas quartas de finais da Copa 2010: experiências e estilos de treinamento, empatia com os jogadores e o estado de humor de Dunga e dos jogadores brasileiros no segundo tempo do jogo de hoje.
Obviamente, comparações podem ser feitas entre os dois treinadores da América do Sul: Dunga e Maradona. Nenhum deles tem experiência em treinamento de atletas, treinamento acadêmico em Educação Física ou em ciências do treinamento, o que é comum nos países da América do Norte e Oeste Europeu.
Eles obviamente não tiveram treinamento técnico em futebol e precisam contar com suas experiências como jogadores e com seus treinadores auxiliares que tem essa experiência.
Da minha perspectiva trabalhando com times nacionais canadenses, os melhores resultados acontecem quando o treinador é academicamente treinado e aprendeu a adotar perspectivas positivas, tem preocupação, amor e respeito com seus jogadores, tem liberdade para escalar os jogadores mais jovens em competições de nível internacional e gosta de rir, abraçar e parabenizar seus jogadores, fatores que tem contribuído para o sucesso de Maradona. Eu escrevi isso antes do jogo da Argentina e Alemanha, mas depois da derrota do Brasil pela Holanda.
O mais óbvio para mim aconteceu no intervalo da partida, quando o Brasil liderava por 1 a 0. Durante o jogo e grande parte dos video clips, pudemos ver cenas de Dunga bravo, e dando socos no banco e no ar, apesar de estar ganhando de um oponente!
Na literatura de psicologia do esporte, existem indivíduos que demonstram um comportamento “tipo A”, caracterizado por um senso forte de urgência, um nível de competição excessivo e um enorme senso de hostilidade. O mais preocupante é que isso tudo aconteceu quando Brasil estava ganhando!
Na minha opinião, Dunga demonstrou seu senso de urgência, competitividade e hostilidade aos seus jogadores no vestiário durante o intervalo. Isso pode ter afetado o “humor positivo” dos jogadores e possivelmente comprometeu os seus espíritos positivos e níveis de habilidade pelo seu estado psicológico negativo durante um primeiro tempo brilhante. Isso pode ter acontecido por meio de atitudes críticas, sarcásticas e feedback inapropriado para esses jogadores multimilionários que estavam representando o Brasil.
Na língua inglesa, existe a seguinte expressão antiga: “Se você não consegue desempenhar, então ensine”. No caso de Dunga, seria mais apropriado dizer: “Se você não sabe ensinar ou treinar, deixe o cargo para alguém que saiba”. Como residente permanente no Brasil, meu coração compartilha com a organização antiquada do processo de tomada de decisão, governabilidade e controle de ambos treinadores e jogadores, mas minha razão está com Maradona, igualmente antiquado, mas que tem demonstrado um estilo positivo e humanístico de treinamento e de desenvolvimento do seu time.

John H. Salmela, Ph.D.
Professor titular, University of Ottawa, Canada

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