segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Texto traduzido prof Dr. John Salmela

Porque Brasil perdeu de 7 a 1 da Alemanha na Copa do mundo-2014: E agora José?

John H. Salmela, Ph.D, sport psychologist, jhsalmela@hotmail.com


A humilhante perda do Brasil resultou em muitas hipóteses da mídia e fãs com pouco

conhecimento de psicologia do esporte. Quando você menciona psicologia e esporte, as

pessoas costumam achar, usando o modelo médico, que os jogadores estão bem, doentes, ou

possivelmente loucos

Treinamento mental (TM) tem sido usado com sucesso no meu país no Canadá, há

mais de 30 anos, e idêntico à ao treinamento físico e tático, também requer anos de prática.

No entanto, o TM lida com a maneira como os atletas pensam e sentem durante as

competições e deve ser ensinado aos jogadores no início da adolescência e treinado ao longo

das suas carreiras. O treinamento físico envolve o desenvolvimento de sistemas aeróbios e

anaeróbios, força física, flexibilidade e agilidade. O TM exige a habilidade dos jogadores de

saber que eles podem controlar as suas habilidades emocionais ou sentimentos e habilidades

cognitivas ou planejamento sobre o que eles querem trazer para o jogo. Eu fiz isso por 15

anos com a equipe masculina de ginástica de base até os Jogos Olímpicos.

Em 1908, Yerkes e Dodson demonstraram que a ativação fisiológica tinha um efeito

previsível sobre o desempenho em qualquer domínio. Basicamente, eles mostraram que,

se um atleta for pouco estimulado, como, por exemplo, quando eles acabam de acordar ou

superexcitados por uma intensa atividade física, seu desempenho é afetado negativamente.

Por isso, é essencial que a ativação fisiológica seja elevada para um nível ótimo, como

demonstrado por um curva em U invertida. Esta curva mostra uma pequena inclinação, onde

a base representa níveis baixos de desempenho e quando os atletas estão super excitados

no final da curva, eles também apresentam um desempenho ruim. Assim, o topo da curva

representa o nível ideal de ativação para um máximo desempenho.

Em 1990, Lew Hardy, mostrou uma modificação significativa desse modelo: a teoria

catastrófica. Esta adicionou ao modelo fisiológico acima, a dimensão da cognição. Ele

mostrou que, quando a ativação fisiológica era elevada, juntamente com alto níveis cognitivos

de preocupação ou medo, o aumento suave da subida da curva já não era adequado,

acontecendo uma descida brusca com desempenho catastroficamente reduzido!

Então, o que aconteceu contra a Alemanha? Jogando no Brasil na frente de 60.000

espectadores, as expectativas elevadas certamente causaram elevados níveis de ansiedade,

preocupação e medo de perder. No início do jogo, os jogadores correram mais rápido do que

jamais tinha. Assim, as suas respostas fisiológicas atingiram o máximo, e associado com

altos níveis de estresse, BOOM! Eles desabaram e caíram no fundo da curva, como o modelo

catastrófico preveria.

O que poderia ter sido feito de forma diferente? Tal como em muitos outros jogos

da COPA, os efeitos da falta de TM de ambos jogadores e treinadores foi evidente com os

brasileiros. O início rápido e intenso transformou a ansiedade cognitiva e fisiológica em

altos níveis de estresse. Foi durante esses momentos que eles cometeram a maioria dos erros.

Um treinador com conhecimento de TM teria orientado que, após terem posse da bola, os

jogadores deveriam trocar passes entre os zagueiros e o goleiro por pelo menos um minuto,

para acalmarem e, só depois, passarem para o ataque!

Infelizmente, no Brasil, a maioria dos treinadores desconhecem o TM, talvez por se

sentirem ameaçados por experts em TM. Assim, eles chamam os psicólogos do esporte para

atuar como band-aids e descobrir porque o time chorou após uma vitória e outros assuntos

triviais, em vez de incorporá-lo na equipe para trabalhar com os jogadores de base para

treinar ensiná-los desde cedo as habilidades mentais, e depois avançar com eles para grandes

competições.

No Canadá, existem programas de educação de treinadores patrocinados pelo governo,

sendo que um treinador de nível internacional não pode representar o país, sem ter um nível

5 de certificação. Não seria o momento de lutar contra a prática de nepotismo da CBF e em

vez de trocar um treinador por outro ou indicar ex-jogadores famosos e velhos com pouco

conhecimento dos processos de treinamento, para pessoas com conhecimento na área de

ciências do esporte? Os jovens treinadores europeus, como Löw da Alemanha, Guardioli

do Bayern de Munique e Mourinho do Chelsea, têm mostrado o caminho para o sucesso do

treinador de futebol do século 21 no Brasil.